Twistando

Fonte: Silvio Ambrosini - Sivuca - Data: 08/01/2011
Alo Ventomaníacos
 
Estive fazendo umas pesquisas e tenho a impressão que este rapaz que faleceu outro dia na praia parece ter cometido um erro que poderia ter sido administrado.
Ele decolou twistado e o parapente entrou em curva retornando para a montanha. O resto vocês já sabem. Não cabe aqui discutir sobre o caso em si, mas sim procurar obter algo de útil do que aconteceu. Acidentes são lamentáveis, mas através deles, é sempre possível obter informações que auxiliam nosso crescimento como pilotos.
 
Coincidência ou não, logo antes do natal, um piloto me ligou aqui em casa para perguntar a respeito do SIV. Ele queria informações sobre a real necessidade de se fazer o curso e entre as dúvidas que surgiram, conversamos a respeito da possibilidade de twist.
 
O caso é o seguinte: Quando estamos sentados em posição normal na selete,
o corpo tende a adotar uma posição estável, isto é, fica equilibrado no centro sem esboçar tendência de ir para este ou aquele lado. Uma vez que estamos twistados, a situação se reverte, a tendência é de tombar para um lado o que induz o parapente a entrar em curva. A situação é que
diante de uma situação de twist, a atenção do piloto fica direcionada automaticamente para o fato em si e não para suas conseqüências.
Fatalmente o piloto tende a tombar induzindo o parapente a entrar em curva o que pode ter conseqüências aterradoras. 
A simples consciência desta possibilidade já é um grande caminho para evitar que isto aconteça; não o twist em si, mas evitar que o corpo tombe para o lado. É apenas uma questão de equilibrar o corpo na selete.
 
Pensando nisto, um exercício bastante saudável e seguro, desde que tomadas as devidas precauções, é induzir uma situação de twist e procurar agir de forma a equilibrar o corpo. Uma pesquisa do comportamento do parapente pode ser feita neste caso onde a situação singular tem muito a acrescentar a nossa compreensão do funcionamento
das coisas em nosso esporte.
 
Vamos lá: Uma vez distante do relevo, segure ambos os tirantes e dê um impulso para provocar um twist de 180°, ou seja, piloto voando de costas. Procure manter-se nesta posição e assim permita que seu corpo
incline para um lado e para o outro pesquisando o comportamento da selete e mentalmente comparando com o que acontece em vôo normal.
Deslocando o corpo lateralmente, provoque uma curva, permita que o parapente descreva uma volta completa e faça com que ele estabilize novamente. Estude as sensações sempre comparando com as que você já conhece.
Novamente twistado a 180°, acione um dos freios. Você sentirá uma imediata sensação de frio na barriga pois seu corpo "esperava" que o parapente inclinasse para o lado contrário. Veja como o corpo se engana
diante de movimentos repetitivos. Isto tem nome, chama-se condicionamento.
 
Pesquise o quanto influi o fato de você ter as pernas recolhidas debaixo do assento ou esticadas para frente, observando o comportamento na saída do twist. Observe o comportamento em todos os aspectos: tempo, nível de estabilidade, sensações. A inércia é um fator extremamente importante e muitas vezes deixada de lado em detrimento de fatores estéticos ou de
conforto, pura acomodação de pilotos que se consideram "conhecedores" da arte de voar. 
 
Experimente "aprender" a administrar curvas para os dois lados utilizando os batoques enquanto twistado. É exatamente nesta posição que alguns pilotos morreram ou se quebraram justamente por tentar corrigir
uma inclinação e acionar o freio exatamente para o lado oposto, por puro condicionamento e por infelizmente nunca terem experimentado algum tipo de exercício como estes que proponho.
 
Alguns de vocês já devem ter visto a prática (ao meu ver pouco saudável) de decolar invertido. O piloto infla o parapente na posição reversa, corre de costas e decola na posição invertida para somente então,
retornar para a posição normal de vôo. Pois bem, se o piloto não está treinado (o que é normal) e seu parapente sofrer um colapso ou uma simples inclinação, por menor que seja e aquele tentar corrigir utilizando os batoques enquanto invertido, o condicionamento fatalmente induzirá o piloto a acionar o freio do lado errado o que contribuirá para piorar ainda mais a situação podendo provocar um sério acidente
como eu mesmo já vi acontecer.
 
É por isto que insisto. É por isto que bato sempre na tecla da experimentação. É preciso que o piloto quebre paradigmas de
condicionamento, é preciso que o piloto pesquise como o corpo e o equipamento se comportam em situações diferentes daquelas encontradas em vôo normal. Só assim ele pode se tornar capaz de criar vacinas contra
situações que vem matando amigos nossos por aí.
 
Por favor, espalhem esta mensagem.
 
Sivuca
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