A simplicidade do voar

Fonte: Silvio Ambrosini - Sivuca - Data: 08/01/2011
A simplicidade do voar
 
Vou transcrever um texto que li faz pouco tempo e que pode tocar um sino na cabeça e muita gente:
"A vida, quando vivida inteligentemente, é simples. Existe uma grande beleza nesta simplicidade. Quem compreende que a vida em sua essência, é simples e se dispõe a obedecer as suas leis, não se perde nos caminhos obscuros nem nos labirintos complicados dos desejos do ego. Desta forma, fica protegido de inúmeras agressões. A simplicidade inteligente é despojamento, é liberação.
 
Quando atingimos esse grau de sabedoria, a vida passa a nos trazer alegria, bênçãos e riqueza."
 
Quando li este texto, pensei "ah, legal" e coloquei-o aqui em um cantinho. Hoje eu li um depoimento que me chamou atenção e imediatamente lembrei do texto... corri procurar e aí está a pérola, caindo como uma luva.
 
As pessoas que me deram este texto costumam dizer que como seres humanos, somos divididos em três partes: a mente, o corpo e a emoção. Cada uma destas partes tem uma função no contexto geral e também uma forma de trabalhar completamente particular, inclusive bastante diferente de cada uma das outras duas. Cada uma destas partes é tão importante quanto as outras e finalmente, o homem como um todo só funcionaria corretamente se ele fosse capaz de utilizar estes três departamentos de forma digamos, balanceada.
 
O problema começa aí. O homem não utiliza os três departamentos como deveria. Ele mentaliza tudo, esquece-se de seu corpo e não dá a mínima para a emoção. Quando seu corpo se manifesta de alguma forma, normalmente acaba sendo através de sintomas patológicos, um verdadeiro alarme do corpo que grita "Ei, eu estou aqui!! Preciso de atenção!!".
 
Uma vez que as emoções estão igualmente esquecidas em algum canto empoeirado, elas acabam se manifestando nas brechas emotivas, fazendo a criatura chorar só de ver uma florzinha ou quando a gostosa da novela diz que seu celular ficou sem bateria, ou então socar o volante do carro quando o outro motorista olha torto. O engraçado é que o senhor emotivo muitas vezes se considera uma pessoa "emocional", afinal ele está uma pilha; não há como negar.
 
Assim, como pura manifestação mental, concentramos o desenrolar de nossa atividade aérea em equipamentos, marcas, cores, acessórios, números (ah, os números...), etc. Repare como alguns pilotos possuem uma parafernália infindável de equipamentos de todos os tipos. Pilotos voam no lift munidos de GPS, vário, camelbequi, luvas, botas, macacão, selete carenada e assim por diante. Não estou aqui dizendo que um piloto não deva usar luvas ou botas, mas precisa trocar por um novo par a cada 6 meses?
 
Creio que se pudermos adotar uma postura mais simples, com menos variáveis, as coisas fluirão melhor. Teremos mais espaço-tempo para dar atenção para nosso corpo e nossas emoções; eu disse teremos mais espaço-tempo, isso quer dizer que cabe a nós administrarmos isso através da manifestação de nossa vontade. Isto não acontece em substituição automática.
 
Gostaria de inclusive abrir um parênteses com relação ao corpo. Acreditamos algumas vezes, que como pilotos, podemos nos dar ao luxo de levar uma vida completamente sedentária, afinal ficar pendurado no parapente não parece ser uma atividade exatamente física, não é verdade? Porém não podemos nos esquecer que existe desde a possibilidade de um piloto pousar em um local de difícil acesso e ter de carregar seu equipamento nas costas por um bom tempo até existir a necessidade de precisar alcançar alças e linhas de também difícil acesso e conseqüentemente oferecendo possibilidade de câimbras e distensões musculares, passando pela possibilidade do piloto ficar na rampa desidratando debaixo do sol enquanto tenta inflar seu parapente. Estes fatos podem se transformar em grandes vilões contra nossa sobrevivência se não tivermos o mínimo de preparo físico reservado.
 
Por isto e por outros motivos, caros amigos: o mínimo de atividade física nos é recomendável a fim de não só garantir nossa segurança em vôo, como também de garantir nossa sobrevivência aos males em geral que podem se apresentar com maior facilidade no decorrer dos anos de nossa miserável vida na terra.
 
Sivuca
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