2 anos ou 2 meses para fazer o primeiro S.I.V.?

Fonte: Silvio Ambrosini - Sivuca - Data: 08/01/2011
2 anos ou 2 meses para fazer o primeiro S.I.V.?
 
Amigos,
 
Recentemente voltei a ser questionado sobre o fato de um piloto precisar ter 2 anos ou um ano ou seis meses antes de poder fazer o primeiro SIV.
 
Bem, ao meu ver trata-se de um excesso de zelo que não reflete a realidade. Não coincidentemente, ainda ontem tivemos uma reunião com o Mingo, este que vos escreve, o Kurt e o Alexis, o Arthur Lewis (diretor técnico da ABP) e Cláudio Consolo, presidente da entidade, justamente discutindo sobre a normatização dos cursos SIV quando veio à pauta a questão pretenso número de vôos que um piloto deveria ter antes de poder fazer o seu primeiro SIV.
 
Após a exposição dos fatos, chegamos a seguinte conclusão:
 
Não ficou estipulado um número de vôos ou de anos que um piloto tenha acumulado de experiência como pré-requisito para se fazer um SIV e sim que o instrutor deve fazer uma checagem com o aluno a fim de assegurar-se de que este tem o mínimo de domínio de inflagem e controle de solo.
 
Esta conclusão foi alcançada levando-se em conta o fato de que o SIV não obriga o aluno a executar manobras que não estejam ao seu alcance técnico, podendo ser direcionado para o iniciante através de exercícios práticos que acelerarão o processo de aprendizado do comportamento do parapente.
 
Com relação ao momento da decolagem rebocada, foi questionado se esta não seria demasiadamente perigosa ou mesmo delicada em relação à decolagem de montanha e foram chegadas as seguintes conclusões: A decolagem rebocada apesar de ser ligeiramente diferente da decolagem padrão, não é mais perigosa sendo algumas vezes até mais segura desde que se tome o cuidado básico em executar um briefing antes do início das decolagens, o que reflete a realidade de todos os cursos.
 
Em ventos fortes, a decolagem rebocada evita que o piloto seja arrastado durante uma inflagem mal feita. Um inflagem com o parapente pendendo para um lado produzirá resultados mais fáceis de serem administrados na decolagem rebocada do que em decolagem padrão. Naturalmente no curso não serão permitidas decolagens se o vento estiver forte demais.
 
Em ventos fracos, a decolagem rebocada auxiliará o piloto na corrida. Em ventos moderados, a inflagem será exatamente igual a padrão e o reboque somente iniciará a partir do momento que o parapente estiver alinhado sobre a cabeça do piloto. Ao nosso ver as duas únicas possíveis desvantagens da decolagem rebocada diz respeito:
 
1 - Alguns pilotos cometem um erro quando tentam sentar na selete antes do parapente estar efetivamente voando. Neste caso ele volta para o chão podendo ser arrastado pelo cabo por alguns metros até que a inércia do mesmo seja vencida.
 
2 - Imediatamente após a decolagem, o piloto pode ser levado a estolar o parapente inadvertidamente ao utilizar excesso de freios, uma vez que durante o reboque, o parapente assume um ângulo de ataque mais crítico que aquele praticado em vôo normal tornando os freios mais sensíveis ao estol.
 
Entretanto, este tipo de acontecimento é típico de uma situação de falta de concentração do piloto. A partir do momento que tais fatos são levantados em briefing, as probabilidades se reduzem drasticamente, ou seja, o piloto é informado de antemão que ele não deve pular na selete antes que esteja efetivamente voando e não pode atuar forte nos freios quando está sendo tracionado pelo barco. Isto é absolutamente simples.
 
As estatísticas de vários anos de cursos SIV (ministro SIV desde 1996 e participei de todos os cursos desde 1994 no Brasil) nos mostram que a quantidade de acidentes desta natureza foi absolutamente inexpressiva. Observou-se que nos únicos dois casos catalogados de acidentes graves com pessoas que estolaram seus parapentes, tratava-se de pilotos experientes que se comportaram displicentemente. Jamais um piloto iniciante estolou o parapente em uma decolagem rebocada, a não ser em casos onde o parapente realmente não tenha nem sequer chegado à cabeça do piloto, sendo nestes casos a decolagem abortada imediatamente sem maiores conseqüências.
 
Ainda: Foram catalogados alguns casos (o mais comum) onde o piloto infla o parapente e imediatamente após a decolagem, começa a pender para um lado. Nestes casos, ele é orientado a fazer uma correção de rota enquanto o barco é desacelerado e eventualmente o cabo é liberado completamente. Naturalmente o piloto irá para a água se não se desconectar ou se não tiver altura suficiente para retornar com segurança à margem. De qualquer modo, é procedimento padrão que uma vez que o piloto perca tanto tempo e conseqüentemente altura tentando corrigir, que chegue a ponto do cabo mergulhar na água, o barco não irá mais tracionar o piloto e este pousará na água sem maiores conseqüências.
 
É preciso levar em conta que devido a natureza do curso SIV, o aluno é levado a adotar uma postura mais cuidadosa e termina por administrar seu equipamento de forma mais eficiente do que uma eventual displicência de rampa poderia causar por excesso de confiança.
 
É preciso considerar também que a decolagem rebocada, exige um piloteiro da lancha treinado para tal, uma vez que o êxito no cancelamento da decolagem, se necessário, depende muito da forma como o piloteiro irá desacelerar o barco e eventualmente liberar o cabo.
 
Sendo assim, por mais que o piloto tenha acabado de se formar, mas se ele tiver um bom controle de solo que é o mínimo que qualquer piloto precisa ter antes de fazer seu primeiro vôo, ele estará habilitado para fazer o SIV e é desta forma que agimos antes de todos os cursos.
 
No que diz respeito às manobras, ressalto que o curso é absolutamente individualizado e cada piloto somente irá executar um programa compatível com seu nível técnico. É claro que como instrutor, eu seria a primeira pessoa a procurar criar restrições caso estivéssemos metendo os pés pelas mãos, uma vez que não desejo de forma alguma ser processado por negligência, o que é um direito de qualquer um caso seja constatado.
 
Acredito que esta mensagem pode ser divulgada tranqüilamente nas listas de discussão do país para que possamos contribuir para desmistificar esta situação cultural já estagnante.
 
Estou absolutamente aberto a comentários e questionamentos a respeito do assunto.
 
 
Sivuca
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